domingo, 20 de julho de 2014

O pai e o parto, por Luiz Gustavo Lamac Assunção

Sempre tenho queda de pressão quando vejo alguém sentindo dores em partes sensíveis do corpo. Descobri essa fraqueza com uns 9 anos de idade, quando vi meu vizinho chegando na garagem do prédio com uma cara pálida e caminhando com passos curtos. Ao perguntar o que era, a mãe dele respondeu que ele estava chegando de uma cirurgia de fimose. Não deu outra: no elevador, caí desacordado nos braços da minha mãe.
Fui operado bem novinho, não tinha lembrança nenhuma disso, e só de imaginar a sensação de uma cirurgia de fimose meu corpo não agüentou... Chegando em casa ela ligou apavorada para o pediatra, que a tranqüilizou e disse que fiquei impressionado com a delicada cirurgia do vizinho. Depois disso, minha pressão caiu várias vezes, sendo as mais marcantes quando fui ajudar meu pai a descer da cama do hospital logo após uma cirurgia de hérnia e ao ensaiar o primeiro gemido de “ai” ele e a namorada é que tiveram que me socorrer para que eu não esborrachasse desmaiado no chão. Mais recentemente, quando fomos visitar uma amiga da Tati que tinha acabado de ter neném na maternidade minha pressão começou a cair só de ouvir a voz dela recém operada e imaginar o corte recente. Resumindo, minha esposa e um pai que tinha acabado de ver o nascimento do filho tiveram que me segurar, além das enfermeiras no corredor do hospital. Um vexame total... Depois que a Tati ficou grávida, eu tinha pânico de pensar na hora do parto e já a avisei desde o início que infelizmente eu não iria presenciar o nascimento do neném e que a mãe dela seria a melhor companhia. Mas os argumentos de nossa obstetra Claudia Ramos e do pediatra Paulo Poggiali me convenceram. Eu e Tati temos um companheirismo muito grande para ficarmos separados nesse momento tão marcante, e ela fazia questão da minha presença. Eu me comprometi a tentar entrar na sala de parto, se meu corpo e minha pressão deixassem. Como não houve contração até a 41ª semana, fomos direto do último ultrassom para a consulta com a Dra. Claudia, com o sentimento de que só sairíamos dali com o Gustavo no colo. E foi o que aconteceu: na consulta ela já nos disse que esperar mais seria perigoso e que nosso parto seria o 2º da fila. Já fomos para o quarto fazer os preparativos necessários para a cirurgia e até então eu estava relativamente tranqüilo. Na hora que me trouxeram o avental a ansiedade começou a tomar conta e ameacei uma dor de barriga. A enfermeira perguntou se eu queria ir ao banheiro e eu disse que não precisava. Pedi apenas que me trouxessem o sal, caso minha pressão cismasse em cair, e providenciaram logo um saleiro cheio. Subimos para o bloco cirúrgico e fiquei aguardando em uma ante sala, enquanto a Tati já tinha entrado na sala de cirurgia para os procedimentos de anestesia, soro e sonda. Comecei a ter um sentimento muito estranho de solidão, chorei e ainda tive que escutar a enfermeira me chamando de pai babão. Pensei no medo que a Tati poderia estar sentindo da temida cesária e anestesias, idéias que ela abominava. Quando me chamaram para entrar na sala, a encontrei tremendo e chorando, o que me apavorou mais ainda. Conversei com ela, fazendo uma massagem na cabeça e conversando. A equipe médica começava a detalhar os procedimentos e a Tati me pediu que tampasse os ouvidos dela pois não queria ouvir nada. Nem eu, só queríamos o Gugu. Fiquei toda a cirurgia com minhas duas mãos fazendo uma enorme força nos ouvidos dela. Comecei a tremer, e a Tati perguntou se eu estava emocionado. Eu disse que o tremor era por causa da força que eu estava fazendo e não tinha nem como sentir mais nada. Algum tempo depois, ouvimos o choro do Gugu nascendo e na hora veio a tranqüilidade e emoção da Tati. Eu já tinha extravasado todas as emoções e forças antes e na hora do nascimento só consegui ficar feliz, já tudo tinha dado certo. E mesmo enquanto era costurada a Tati ainda conseguiu soltar a seguinte pérola para a equipe médica: “vou te contar uma coisa...esse negócio de cesária é tudo de bom”. Quem a conhece deve imaginar direitinho ela falando isso. Todos nós morremos de rir, mais relaxados e sentindo que ela estava bem. Mas a Tati continua achando que o parto normal ainda é o que deve ser priorizado, desde que não ponha em risco a saúde da mãe ou do bebê. Enfim, superei mais esse desafio na minha vida e tenho orgulho em dizer que sobrevivi ao parto sem usar o saleiro que ficou no meu bolso. Eu, minha mãe e minha sogra aguardamos por ela no quarto, e quando chegou com o Gugu não conseguia nem me responder, de tanta atenção que tinha que dar ao bebê além dos efeitos da anestesia que ainda não tinham acabado. Normalmente só ouvimos poesia a respeito do nascimento de um filho, que realmente é mágico, mas os primeiros dias são caóticos, cheios de tensão e aprendizados. A impressão que dá é que não estamos curtindo o filho como imaginávamos, mas conversando com amigos vi que esse sentimento é comum a todos. Então, nada melhor que ter calma, paciência e buscar o máximo de informações com profissionais confiáveis e que combinem com sua forma de pensar. Registro aqui nosso agradecimento por todo o carinho e atenção que a Dra. Claudia e equipe dedicaram a nós, aliando muita competência e humanismo em todas as etapas do processo.    

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